Monday, December 11, 2006

O meu “Caminho”

1) Valença do Minho (121 Km)

Chamava-se Contrasta até que D. Afonso III mudou-lhe o nome para Valença e deu-lhe novo floral (1262).
A fortaleza foi melhorada no tempo dos Filipinos. Dispõe de um duplo polígono defensivo, apoiado por doze baluartes e quatro revelins. Tem quatro portas: de Santiago ou do Sol, da Gabiarra, da Frente da Vila e da Coroada. No seu interior da fortaleza encontramos casas ancestrais, igrejas, pequenas praças, hoje virada para o turismo, é povoada por casas de comércio, de artesanato e restaurantes.

Durante séculos, os peregrinos procedentes de Portugal acediam à cidade de Tui cruzando o rio Minho em barca. Em 1884, a construção da Ponte internacional, obra do arquitecto Gustave Eiffel, ofereceu-lhes uma passagem pedonal.
A partir da Ponte, o traçado dirige-se em direcção ao porto Tudense de Lavacuncas, onde se produzia antigamente o desembarque de peregrinos.



2) Tuy (114 Km)

Tui apresenta-se como ponto de arranque do caminho português na Galiza.
A catedral de Santa Maria de Tui é obra romântica e gótica, com capelas e naves que se enfeitam com imagens e pinturas do século XVI-XVII. Edificada entre 1145 – 75.
A catedral tem um claustro da segunda metade do século XII, é o único claustro medieval completo que conserva uma catedral galega, com maior valor por possuir parte da sala capitular românica do século XII.



Na praça do Consistório, adjacente à catedral está o Museu Diocesano de Tui-Vigo, organizado no antigo hospital do peregrino que tinha patrocinado, em meados de XVIII, o bispo de Castanón. A não perder, conta com uma esplêndida colecção de escultura sacra e ourivesaria litúrgica que vai do século XIII ao XVIII.

O caminho português continua pela rua das Monxas, à sombra dos muros do Convento das Clarissas, as “encerradas”. A rota passa pelo túnel das Monxas, desce uns degraus e chega ao sítio onde estava a Porta Bergana, um dos acessos à cidade medieval.
Passando a igreja de santo Domingo de Tui (séc. XIV), as ruas António Valino e de San Bartolomé conduzem à igreja romântica de San Bartolomé de Rebordáns (séc. XI). Neste antigo mosteiro encontrou hospitalidade, a princípios do século XII, o prelado compostelano Diego Gélmirez quando trasladava as relíquias de Braga para a Catedral de Santiago.

Deixando Tui para trás, a rota decorrer pela N-550 até chegar à capela da Virxe do camino. Daqui segue pela a ponte das Febres (ponte de San Telmo) até ao lugar de A Madalena. O caminho ultrapassa a ponte de Orbenlle, deixando a ponte de Gándaras de Budino, atravessa um polígono industrial.

A zona industrial de Porrino é uma recta diabólica, entre fábricas, transito, maus cheiros, onde o cansaço chega por antecipação. Chamo a este troço do caminho a tentação do Diabo, as portas do “inferno”, no qual somos postos à prova. Se vencermos o desânimo estamos prontos para seguir o caminho e ultrapassar qualquer obstáculo. É a Capela de A Virxe da Guia indica a proximidade de Porrino.





3) Porrino (98 Km)

É a Capela de A Virxe da Guia indica a proximidade de Porrino.
Atravessa-se a vila pela praça de San Sebastian e praça de Concello, para passar rapidamente às imediações da capela das Angustias.



4) Redondela (77 Km)

Dois quilómetros depois de sair de Porrino, cruza-se a N- 550 e o rio Louro para encontrar o palácio de mós e empreender a subida da rua dos Cabaleiros.
Por Enxertade, com o vale a nascente, chega-se, subindo ligeiramente, à capela de Santiaguino de Natas, um aprazível lugar. Logo passando ante o miliário romano de Vilar de Enfesta ou de Saxamonde, atravessa-se a meseta de Chan das pipas.


Seguindo a via romana, o traçado vai de novo à N – 550, entrando em Redondela à altura do convento de Vilavella. Em Redondela a rota decorre a rua de Padre Crespo, até chegar à igreja de Santiago, cuja a origem remonta aos tempos de Gélmirez, ainda que tenha sido reedificada no século XVI. O albergue da vila, situado num edifício histórico do Século XVI denominado a casa da Torre, é um dos principais do Caminho Português, mais do que um albergue é um ponto de convívio das gentes da vila, com um espaço de exposições no qual podemos as mais variadas exposições de arte. (a não perder)

A saída de Redondela, passada a ponte do caminho-de-ferro, a rota prossegue num bosque. A sinalização conduz até ás ruínas de uma das casas de posta que marcavam a rota. Perto está Sotoxusto. Rodeados de pinheiros, desce-se pelo lugar de Setefontes para atravessar Árcade pelas típicas ruas e chaga-se à histórica Pontesampaio.
O caminho cruza o rio Verdugo pela ponte onde, na guerra da Independência, se produziu uma das maiores derrotas do exército napoleónico na Galiza, às mãos do povo armado.

A rota sai da ponte e percorre a vila de Pontesampaio, subindo por uma estreita e empedrada rua que surge à esquerda. Por ela se percorre as pequenas e pitorescas ruas da vila, que nos conduzem para fora do núcleo urbano.
Faz-se uma paragem em santa Maria de Pontesampaio (séc. XIII) bom exemplo românico rural, cruzamos a estrada do cemitério. Ela conduz à Verea Vella da Conicouva antiquíssimo caminho empedrado (Subida de pedregulhos a ultrapassar durante alguns Km, ficará satisfeito quando chegar ao fim).

O caminho acerca-se a santa Marta de Gandarón, deixando para trás lugares de Boullosa e Bértola, Por asfalto, num trajecto de três quilómetros, já se alcança Pontevedra. Entra-se na cidade pelo caminho de Gorgullón e Virxe do Camino.

5) Pontevedra (61 km)

Pontevedra possui um dos conjuntos históricos e artísticos mais belos da Galiza. Chaga-se até ele pela rua Benito Corbal, que conduz à praça de A Peregrina, onde está o Santuário da Virgem Peregrina (séc. XVIII), um dos pontos de referência para as devoções dos peregrinos. Foi construída em 1778 pelo arquitecto Arturo Souto com planta em forma de concha de vieira.

Ao final da rua Michelana, encontram-se as evocadoras ruínas do Convento de Santo Domingo (Séculos XIV – XV). A sua igreja era maior dos templos dominicanos galegos. Na actualidade, forma parte do Museu de Pontevedra.

O caminho conduz da Peregrina à imediata Ferreiria, praça que embeleza com os jardins de Castro Sampedro, a bela Fonte da Ferreiria (séc. XVI) e a igreja conventual de San Francisco (séc. XIV).

O peregrino não pode deixar de visitar o Museu de Pontevedra. Os seus fundamentos encontram-se vários edifícios históricos da cidade. São de destacar a colecção de ourivesaria pré-romana, as suas salas de pintura e gravados e a sala de azeviches compostelanos, uma das melhores de Espanha.
Na zona norte está a basílica de Santa Maria A Grande, templo patrocinado pelo grémio de mareantes de Pontevedra do século XVI. Possui uma bela arquitectura onde se conjuga o último gótico com as tendências renascentistas, de beleza ímpar.

O caminho abandona Pontevedra, Deixando à direita do traçado um sossegado castanhal, a rota decorre paralela à via do caminho-de-ferro até ao lugar de Pontecabras, prosseguindo rumo ao norte até alcançar entre pinheiros e eucaliptos, a igreja e reitoria de Santa Maria de Alba. Passada a capela de San Caetano, esperam-nos profundos bosques de Reiris e Lombo de Macieira, encontra-se então o cruzeiro de Amonisa, em cujo fuste Santiago Peregrino indica o caminho aos seus romeiros.


A partir de Ponte Valbón, até a capela de Santa Lúcia em Briallos, a rota transcorre muito placidamente, ainda que seja preciso atender à sinalização devido às encruzilhadas e contínuos ziguezagues que oferece o trecho. Há que destacar neste projecto a pequena igreja de San Martín de augudelo, em Barro, de princípios do século XIII.


6) Caldas de Reis (38 Km)

A Aquae Celenis do itinerário Antonino, banhada pelos rios Umia e Bermanã. Destaca a igreja de Santa Maria de Caldas, construção do sólido cadeirado de princípios do século XIII.

Na parte antiga da Vila encontra-se a igreja de Santo Tomas Becket, único templo galego dedicado ao santo arcebispo de Canterburry e grande dignitário de Inglaterra (1118- 70), assassinado no interior da sua catedral, por um dos cortesãos do rei Enrique II de Inglaterra. Tomas Becket foi em peregrinação a Santiago em 1167, fazendo uma paragem na vila de Caldas. A igreja que leva o seu nome foi construída entre 1890-94 com as pedras da torre medieval da rainha dona Urraca, onde tinha nascido o rei Alfonso VII de Castela e Leão.

A ponte sobre o Umia acerca o peregrino à fonte das águas termais que dão nome à vila desde época romana. Segue-se a rua real e cruza-se a Ponte Bermanã, peça medieval de enorme encanto, e alcança-se o vale do rio Bermanã, rodeado por bosques centenários.




Já fora de Caldas pode visitar-se a interessante igreja romântica de santa Maria de Bemil.
O caminho prossegue até chegar ao conjunto de Santa Marina de Carracedo, composto por igreja, casa reitorial e celeiro. Depois continua pelos lugares de Casal de Eirixio e O Pino e penetra em bosques profundos que decorrem, entre rumor de águas, próximos a antigos moinhos.

Depois de passar as aldeias de Cabaleiro e ontelo para chegar entre uma mar de pinheiros, a Condide. Encontra-se um belo cruzeiro que tem gravada a data de 1797.
Depressa se encontra a Ponte de Censures, obra de origem romana, com restos do século XII, muito reconstruída e restaurada nos seus dois mil anos. Passada a ponte, segue-se até Padrón pela N- 550.

7) Padrón (22 Km)

Celebre vila em que chagou a nave que conduziu o corpo de Santiago o Maior desde Jaffa (Palestina).

Nesta vila a peça mais jacobeia da vila é o Pedrón, interpretada como ara romana dedicada a Neptuno e na qual, segundo a tradição, se amarrou a barca de pedra que tinha transportado o corpo do apostolo a os seus dois discípulos Teodoro e Atanasio, encontra-se na margem do rio próximo da A igreja de Santiago de Padrón, de austero neoclassicismo, guarda importantes testemunhos.

O caminho percorre várias das principais ruas de Padrón, mostrando ao peregrino o seu património histórico. Um dos edifícios mais notáveis é a igreja Do Carmem (fig. a esquerda), construído entre 1717-57 sobre um promontório, ao lado do Sar, sob a direcção do carmelita descalço frei Pedro de la Madre de Dios.

Aos seus pés está a fonte de Carmem, frente à qual se lavrou a cena da trasladação do corpo do apóstolo.
No fórnice, representa-se o baptismo da Rainha Lupa por Santiago o Maior, cena que evoca a evangelização destas terras pelo Apostolo.
Nas imediações, a um quilómetro de distância, o peregrino pode fazer uma pausa e descansar no Santiaguino Do Monte, lugar que possui um belo miradouro, uma capela dedicada a Santiago e um altar com a imagem de Santiago numas rochas.
Do caminho em direcção a iria Flavia, a rota segue por um dos edifícios mais notáveis O Palácio do Bispo Quito, é uma obra barroca do arquitecto Melchor de Velasco que data de 1666.
Dois quilómetros depois chega-se à Colegiata de Santa Iria, rodeada pelo cemitério de Adina. A origem da Colegiata de Santa Maria de Iria remonta à Alta idade média – ainda hoje se encontram nos arredores vários sarcófagos do século VI – e foi construída sobre a protecção de Santa Eulália. Almanzor danificou este templo em 997. No século XI foi reconstruído várias vezes pelos bispos.
Frente à fachada da colegiata, situam-se as casas dos cónegos, actualmente ocupadas em boa medida pela sede da fundação Camilo José Cela, ilustre escritor padronês Prémio Nobel da Literatura.
O Caminho continua pelas aldeias de Quintáns, Souto, Rueiro, Cambelas, Anteportas, Tarrio e Vilar, num ziguezague constante por ruas estreitas e pequenas com casas de construção granítica (muito belo).

O traçado encaminha-nos para o Santuário Mariano de A Escravitude, levantado em 1732 – 43 sobre a fonte diante da qual, em 1732 teve lugar um milagre que motivou a sua construção. O sumptuoso e barroco santuário foi construído com o dinheiro de doações e foi concluído em 1750.
Uma vez deixado o santuário, o caminho passa em frente da igreja de santa Maria de Crices para decorrer entre Bosques e cruzar a via do caminho-de-ferro na pitoresca aldeia de Angueira de Suso. Segue-se até Areal e O Faramello, para depois continuar até ao bonito lugar de Rua de Francos, no bosque próximo encontram-se os restos de uma calçada romana e uma ponte.
8) Teo (12,5 Km)


Um formoso cruzeiro gótico – um dos mais antigos da Galiza – despede o peregrino da rua de francos. E apôs um brusco ziguezague, chega-se a Pontepedreira, segue-se Arieira e Milladoiro. Intuindo já as torres da catedral e passado um curto trecho chega-se a Agro dos Monteiros, a partir de onde é possível ver, ao longe, a cidade do Apostolo.
O velho caminho medieval deixa a um lado as ruínas do castelo arcebispal denominado A Rocha Vella, aproxima-se de Santomil e Amanecida e cruza a ponte do rio Sar.

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